Dos idos de 1991 pra maio de 2025, na Ideosphera. É! Encontrei o Armando (que é uma biblioteca ambulante do udigrúdi curitibano) e ele me mostrou a foto desse cartaz, de um show que eu nem me lembrava mais. Quando vi, relembrei tudo na hora (véio é phoda, tá?) e eu contei como foi. Daí ele pediu pra recontar escrevendo. Tudo aqui é a mais completa verdade, exatamente como eu me lembro! Fora as coisas que eu inventar e contar e que vocês nunca vão saber se foi assim mesmo!. Lá vai! Lá na virada de 88 pra 89, minha família mudou pro Paraná e fui acabar morando em Pinhais, mais exatamente na Vila Tarumã. Nem vou falar que era subúrbio porque seria apelação, mesmo sendo (era subúrbio, não apelação). Ainda bem que não falei. As ruas eram de saibro e ainda tinha as “valetas” por todos os lados. Conheci uns caras no ônibus, na volta do colégio (à noite, pelas 23:30) e vimos que gostávamos de algumas coisas em comum, incluindo muitas músicas. Eu tinha um violãozinho Tonante e uns 4 ou 5 discos. Os outros caras, mais ou menos a mesma coisa. Eis que um dia, um amigo (Oswaldo), chegou com uma novidade. Uma guitarra e, pasmem, uma caixa também! Era uma guitarra Jennifer com caixinha Frahm. Depois que ele tocou e vimos que a caixinha caminhava sozinha, eu e outros caras também tocamos. E ela também caminhava! Nunca me esqueci disso, dessa sensação! Cara, pqp, que coisa legal, inesquecível, dukct!
No fim desse ano, com meu 13º salário de CLT e algumas prestações no carnê da Sartori, eu comprei a minha primeira guitarra que adoro e tenho até hoje, uma Dolphin GA1000 (baita, pra época e pra agora também). Só levei mais um ano e, depois, eu já tinha conseguido comprar meu sonhado ampli e fazer (tipo fazer mesmo, cortando tábuas), minha caixa. Bom, nesse tempo, foram aparecendo umas 4 ou 5 bandas na região (da periferia de Pinhais), que compartilhavam instrumentos e espaço pra poder ensaiar, porque cada um tinha alguma coisa que os outros não tinham e nem sempre as mães e pais (e irmãs) tinham paciência de nos escutar barulhando. A gente se misturava pra poder tocar algo e todos queriam tocar de verdade, pra muita gente. Lá por 91, teve uma baita enchente lá na vila. Foi feia, a coisa. Um rio passando nas ruas, dentro e fora das casas, levando quase tudo. Água entrando pela janeladas. Quem não teve a casa alagada, conhecia muita gente que teve. Com ideias de maloquêros, tipo punk/hardcore/metal (porque resolver os problemas do mundo é coisa de vagabundo – by Replicantes) e pensando em unir o útil ao agradável, resolvemos que íamos, do nada, criar um festival. Afinal, todos queriam tocar de verdade, pra muita gente, já falei antes? Fomos à prefeitura, que nos cedeu o Ginásio do bairro. Fomos às empresas de ônibus, que fixaram o tal cartaz naquele vidrinho atrás do motorista, em todos os ônibus que passavam porperto. Sem internet ou redes sociais, era a melhor forma de divulgar algo. Povão nunca teve carro! O festival era gratuito. Só tinha que levar um agasalho ou 1 kg de alimento, pras vítimas da enchente. Tudo lindo, mas fora o ginásio, não tinha mais nada. Crianças, naquela época, as prefeituras não pensavam nisso. Não “gastavam” nessas infra. Fomos pro velho e bom “te vira, meu chapa” (DIY, como se fala agora). Pra montar um palco, pulamos o muro do colégio ao lado do ginásio e pegamos aquelas mesinhas das salas de aula. Uma camada de mesinhas, tava tri! Mas um gênio resolveu que tínhamos que ter outra camada das mesinhas em cima, pra ficar mais alto. Fizemos! Outro espertão chegou com quilômetros de corda e uma lona do caminhão do pai dele, que colocamos em cima e amarramos tudo. Daí ficou tri mesmo! Deu boa! Só quem caiu do palco foi nossa backing vocal que pulou pra fora, sem querer, claro!
O equipamento era das bandas, tudo misturado. Um cara apareceu com uma máquina de fumaça (o que ajudou a backing vocal a cair). A iluminação era a do ginásio, só tinha uns 2 estrobos que outro cara levou, (escondido do irmão mais velho dele, que usava pra fazer as festinhas na garagem e a gente não era convidado). As cinco bandas tocaram até cansar, sem nenhuma confusão que eu lembre. O saldo foi coisa de 7.500 kg de alimento e não sei quantos agasalhos, uma sensação de sonho realizado, daquela molecada de 16, 17 anos. Afinal, tocamos pra um ginásio lotado de gente que provavelmente nunca nem tinha escutado nossas músicas (lembrem que não tinha internet e fita K7 era caro), só estavam lá pra se divertir e pra colaborar. Minha banda era a Dom José Cuervo, onde tinha eu (Maicon) na guitarra, a Terror (Luciane) na bateria, e o Júnior (Wismar) no baixo e vocal. Também tinha uma backing vocal ocasional (a que caiu do palco por causa da fumaça). Ah, éramos a única banda que tinha garotas na formação. Tocávamos punk rock/hardcore (era pra ser punk rock mexicano, por causa de uma ou duas das músicas, mas essa é outra história). Músicas próprias, mas alguns bem poucos cover no meio, pra “temperar o público” e tentar chamar a atenção. As outras bandas tocavam punk, hardcore, metal, pop, coisarada. Não tinha “isso não pode, aquilo é ruim”. Numa época em que tudo era muito difícil, também tudo podia, porque senão, ninguém conseguia fazer nada.
Ah, o Camarão disse que vai contar algo sobre esse evento e sobre a Esquadrilha Abutre, outra hora tbm! E é isso! Como diria o Suassuna, falando pela boca do Chicó.... “só sei que foi assim!”

Logotipo da Don Jose Cuervo, escaneado a partir de um adesivo que ainda resiste na base enferrujada de uma antiga mesa de serigrafia do Maicon.
Comentários
Postar um comentário
Se você tem ou conhece alguém que possa disponibilizar algo relacionado AO MOVIMENTO PUNK DE CURITIBA NOS ANOS 90, pense na possibilidade de contribuir.
Se tiver algo em seu acervo e quiser compartilhar, entre em contato no email impregnantes@gmail.com
Stay Rebel, Stay Punk!